UM SOL GUERREIRO

UM SOL GUERREIRO

(A todas as crianças negras assassinadas em Atlanta e a muitas outras crianças assassinadas todos os dias no ventre da humanidade)

Já não ouço meu pranto
porque o choro emudeceu
nos meus lábios
O grito calou-se
em minha garganta
o sol da meia-noite
cegou-me os olhos...
Sou noite e noite só
O meu sangue espalhou-se
pelo espaço
E o céu coloriu-se de um tom avermelhado
como o crepúsculo
E eu cantei
Cantei porque agora a chuva
brotará da terra.
As sementes de todos os frutos
cairão sobre os nossos pés
E germinaremos juntos
Embora tu não possas mais
tocar as flores deste jardim, eu sei
Mas o teu solo é livre
Cante, menino,
cante uma canção que emudeça os prantos,
que repique os ataques
e ensurdeça os gritos
Porque amanhã não haverá mais
nenhum resto de esperança
não haverá mais um outro amanhecer,
pois certamente muito antes
de surgir um novo dia
um sol, guerreiro, há de raiar
à meia-noite, para despertar o teu sono,
Como uma nova alvorada.

Comentário Emile Catarina: O poema "Um sol guerreiro" recupera uma dicção política que, em outros momentos fazia-se a tônica da poesia libertária.Cadernos Negros Essa literatura, denominada hoje de afrodescendente, pode ser definida como aquela de onde emerge uma consciência negra. O poeta enunciador assume a identidade negra, buscando recuperar as raízes da cultura afro-brasileira, protestando contra o racismo e o preconceito

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